Este projecto cruza dois territórios, dois autores e duas narrativas de há cerca de cem anos atrás, explorados, transformados e recriados em conjunto com os participantes desta aventura, culminando num teatro de sombras apresentado no Festival Maravilha.
Festival Maravilha + Walk & Talk Açores
28 Jun - 3 Jul 2021
Faial, Horta. Açores
Qual a relação entre o arquipélago Açoriano e as paisagens alpinas Suíças? A paisagem verde natural, os lagos, as nuvens e as vacas que nos oferecem um leite de qualidade excepcional? Esta caricatura um pouco forçada é, de alguma forma, representativa destes territórios, a isto se juntando o isolamento geográfico dos seus habitantes.
“Do Mar à Montanha, da Montanha ao Mar" é uma proposta que explora estes territórios a partir de uma inversão dos contextos espaciais, oferecendo uma narrativa suíça a uma paisagem açoriana e vice-versa. Assim, constrói-se uma nova acção a partir das referências literárias, com um contexto geográfico invertido para cada uma das narrativas, induzindo um sentimento de familiaridade desestabilizante. Esta abordagem de carácter criativo, é feita através da escrita, das artes visuais e performativas, com o objectivo de co-criar um teatro de sombras com membros da comunidade faialense.
Autor suíço, filho de um negociante e de uma pintora, licenciou-se em literatura em Lausanne. Das suas várias estadias em Paris manteve laços de amizade importantes com autores conhecidos como Claudel, Cocteau, Gide, Céline.
Recusou o romance explicativo, que apresenta o destino de um indivíduo, em favor de histórias com um tom mais épico, em que as comunidades são confrontadas com o problema do mal ou o fim do mundo. Renovou a sua conceção da arte da ficção, acentuando a perspetiva subjectiva das suas personagens e recorrendo a um narrador orador que lembra o corifeu da tragédia clássica. Concebeu também uma nova linguagem, reproduzindo a linguagem falada no seu ritmo e nas suas quebras sintácticas, o que lhe valeu a hostilidade dos puristas.
"La Grand Peur dans la Montagne", 1926, obra que serviu de base literária á conceção do projeto Da Montanha ao Mar, Do Mar à Montanha; descreve com maestria as condições de vida nos Alpes e a adversidade contra a qual o Homem se enfrenta. Num cenário paisagístico tão idílico quanto austero, as personagens tornam-se reféns de uma Natureza intransigente e misteriosa.
"Aqui não havia mais árvores de qualquer tipo; não havia mais nem mesmo um traço de relva: era cinza e branco, cinza e depois branco, e nada além de cinza e branco. E eles foram ficando cada vez mais pequenos, lá em cima, sob as paredes cada vez mais altas, que também eram cinza, um cinza escuro, depois um cinza claro; depois, de repente, ficaram rosados, falsamente rosados, porque não é uma cor que dura; é uma cor parecida com a das flores, mas uma cor enganosa, que passa depressa, pois aqui também não há mais flores, nem qualquer tipo de vida; e tinha vindo o país ruim que é feio de ver e que é assustador de ver.
E, lá em cima, os olhos finalmente tocaram uma espécie de névoa pálida seguindo um céu como terra úmida; então, de volta em nossa direção, veio o glaciar, assim velado em sua parte superior, mas não inferior, de modo que se iluminou em verde em alguns lugares e em azul em outros. Em toda parte a neve estava nua e tinha uma cor como a que se vê quando se olha através de um pedaço de vidro azul. "
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